TEXTO Área de Relações Trabalhistas e Prevenção | IMÁGENES MAPFRE
O futuro do trabalho é marcado pela confluência de vários fatores e tendências na área econômica, ambiental e social, que promovem mudanças no aspecto empresarial, nas relações trabalhistas e da organização do trabalho, bem como nos riscos aos quais a população trabalhadora está exposta.
A interdependência desses fatores significa que as políticas da empresa devam estar alinhadas para tratá-los a partir de uma abordagem integral e buscar soluções que levem em conta, especialmente, a saúde das pessoas.
Assim, o futuro da saúde e do bem-estar no trabalho é influenciado por todas essas mudanças, tornando necessário que empresas e organizações adaptem rapidamente suas práticas na área de saúde e bem-estar.
Nesta perspectiva, o objetivo é que as organizações se concentrem não apenas em evitar doenças e acidentes, mas também em promover empresas saudáveis e trabalhadores saudáveis nas três dimensões, física, mental e social, definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2015, a saúde foi incluída nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e na Agenda 2030 das Nações Unidas, que reúne os objetivos relacionados à inclusão no trabalho, igualdade de oportunidades e segurança/saúde no trabalho. Consequentemente, as empresas e os órgãos são convocados a trabalhar para a consecução dos ODS, criando um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
O trabalho é uma parte essencial da vida das pessoas e, portanto, deve contribuir para o nosso bem-estar físico e mental. É por isso que podemos falar da importância de contar com equipes diversas, analisar as novas formas de trabalho, comprometer-se com a transformação digital e de utilizar os dados.
Equipes diversas
Do ponto de vista social, a diversidade das equipes e as mudanças demográficas envolvem uma série de desafios relacionados à saúde e ao bem-estar na empresa. As características de nossa população, diversa e com uma expectativa de vida maior, que supõe uma vida profissional mais longa, juntamente com a existência de pessoas trabalhadoras em situação de maior risco que demandam atenção especial para garantir sua proteção, fazem parte dos desafios que as políticas de prevenção devem enfrentar no futuro do trabalho.
Por exemplo, é necessário levar em conta que cada pessoa, desde as mais jovens até as mais velhas, exige uma abordagem diferente na prevenção e no tratamento das lesões e doenças relacionadas ao trabalho.
Portanto, devemos concentrar as políticas da empresa no indivíduo e em suas necessidades específicas. E também na promoção da saúde personalizada de acordo com as necessidades de cada indivíduo, deixando de lado as programações rígidas que não levam em conta as características particulares de cada um.
Devemos trabalhar para incorporar a perspectiva de gênero e a diversidade geracional às políticas e estratégias empresariais por meio da gestão preventiva, desde uma abordagem positiva da diversidade que promova a sustentabilidade do emprego e locais de trabalho inclusivos, que garantam a saúde das pessoas trabalhadoras.
As novas formas de trabalho
A irrupção imparável das novas tecnologias da informação atingiu níveis extraordinários com a pandemia global e o incremento do trabalho remoto.
As novas formas de trabalho podem oferecer maior flexibilidade e encorajar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, proporcionando amplas possibilidades para realizar de maneira eficaz um trabalho, mas as novas tecnologias e as novas modalidades de organização profissional também propiciaram a chegada de riscos específicos, até agora desconhecidos ou não suficientemente atendidos, que podem se tornar uma fonte de estresse ou isolamento e evidenciam a crescente importância da saúde mental como fator-chave no futuro da saúde e do bem-estar no trabalho, o que está levando a uma abordagem mais integral das políticas preventivas.
Neste contexto, o local e o tempo de trabalho, como elementos tradicionais de configuração do contexto em que a atividade profissional é desempenhada, estão se diluindo em favor de uma realidade mais complexa, na qual a conectividade permanente está na liderança, o que sem dúvida tem efeitos na esfera pessoal e familiar das pessoas.
Os riscos ergonômicos, psicossociais e organizacionais são os que terão maior impacto, originados pelas mudanças nas condições de trabalho, os exigentes ritmos de trabalho, a extensão das jornadas e dos horários ou as novas formas de contratação.
Desta forma, podemos encontrar situações em que:
• O tempo dedicado ao trabalho se mistura com o tempo de lazer, o que dificulta a desconexão profissional
• Podemos trabalhar em diferentes ambientes, desde nosso posto no centro de trabalho até nossa própria casa, alterando as condições físicas e ambientais e não se ajustando ao cenário profissional clássico. A adoção de posturas adequadas ou o ajuste de níveis de iluminação, por mencionar dois exemplos, não são facilmente controláveis e, muitas vezes, não são os mais adequados.
• Treinamento e informações inadequados sobre estas novas formas de trabalho e uma percepção desajustada dos riscos que podem ser causados por seu uso.
Tudo isto pode originar diferentes consequências ergonômicas, tanto fadiga visual quanto física, na forma de transtornos musculoesqueléticos e sedentarismo pelo uso prolongado das telas.
Além disso, esta hiper conectividade pode promover a fadiga mental ao sofrer exposição a uma sobrecarga quantitativa pelo rápido e fácil acesso às informações, o que propicia a realização de mais tarefas e com maior pressão de tempo, o incremento da multitarefa e encontrar tarefas imprevistas e prioritárias, com exigências de resposta imediata, etc., bem como uma sobrecarga qualitativa derivada do possível isolamento e da insegurança.
Por tudo isso, é preciso trabalhar em uma boa organização que promova mudanças de postura e gestão do tempo de exposição, desconexão tecnológica que avance no respeito ao tempo livre e encoraje o equilíbrio da vida profissional e pessoal, modelos de trabalho que permitam organizar a jornada de acordo com as necessidades que possam surgir em cada momento, mais flexíveis, ágeis e eficientes, e uma formação e informações ajustadas ao uso que será feito dessas tecnologias, aspectos imprescindíveis para o controle desses riscos.
As novas tecnologias estão gerando mudanças que envolvem uma mudança de paradigma na segurança e na saúde, ocasionando mais patologias mentais do que físicas e obrigando as organizações a concentrar e colocar o foco na saúde mental como risco psicossocial.
A transformação digital
Na medicina, estamos vivenciando a integração da tecnologia em nossa prática diária, uma tecnologia que visa melhorar os resultados dos tratamentos, otimizar nossos protocolos e aumentar a eficiência de nossos equipamentos.
Pensemos na telemedicina, que facilita o acesso a consultas especializadas para pessoas que moram em locais afastados ou nos dispositivos pessoais (wereables), que foram desenhados para monitorar e enviar informações aos especialistas sem que as pessoas tenham que se deslocar até um centro de saúde; ou as ferramentas baseadas em inteligência artificial, que otimizam o diagnóstico e o tratamento de processos complexos.
As tecnologias de informação e comunicação, o desenvolvimento tecnológico e, especialmente, a digitalização também estão revolucionando o trabalho e apresentam oportunidades do ponto de vista da prevenção de riscos no trabalho, que nos permitem, em muitos casos, um acompanhamento e avaliação contínua com uma abordagem para o cuidado da saúde das pessoas através de, por exemplo, o monitoramento, a formação online, etc., e ferramentas como a teleinspeção, que permitem registrar e compartilhar informações de forma remota, dispondo de dados em tempo real mediante conexão telefônica e uma avaliação ágil das condições de trabalho. Como exemplo desta transformação digital podemos destacar os projetos de teleinspeção, que permitem avaliar remotamente as condições dos centros de trabalho, contribuindo para melhorar a prevenção em todos os níveis da organização e melhorando o cuidado das pessoas. Isto, por sua vez, representa agilizar uma atividade chave e torná-la mais sustentável.
Em geral, este desenvolvimento tecnológico oferece possibilidades para reduzir os danos à saúde através de sua incorporação nos processos de produção e nos procedimentos de trabalho, e também na própria gestão da prevenção. Seu potencial deve ser aproveitado para o desenvolvimento de sistemas de pesquisa, formação e informação, como parte fundamental dos sistemas de prevenção de gestão.
O uso dos dados: prevenção e medicina preditiva
O armazenamento de milhões de dados e sua análise, além de oferecer uma imagem clara sobre os riscos existentes na empresa através de um mapeamento exaustivo, permite detectar, a priori, situações que podem desencadear um risco e/ou um acidente, permitindo antecipar sua gestão e facilitando a proteção da segurança e da saúde nas organizações.
Além disso, em medicina poderemos oferecer soluções personalizadas aos pacientes, para que estes tomem decisões informadas sobre sua saúde. A análise dos dados médicos e o uso de algoritmos de inteligência artificial permitirá analisar o risco de uma pessoa desenvolver certas doenças com base em seu estilo de vida, seu histórico médico e na análise de outros fatores de risco que podem estar associados ao posto de trabalho.
As novas tendências econômicas e sociais, e as transições digitais e climáticas, envolvem riscos novos ou emergentes que afetam a segurança e a saúde das pessoas. As organizações devem estar à disposição para gerenciar adequadamente o bem-estar e promover a saúde.
Por outro lado, e como temos dito, o objetivo é colocar as pessoas no foco das mudanças e da transformação tecnológica, e para isso diferentes estratégias devem ser implementadas que ajudem a eliminar, reduzir ou prevenir os riscos. Não podemos esquecer que o fortalecimento de uma liderança efetiva, que apoie as pessoas nos processos de integração das novas tecnologias, o treinamento, a capacitação e o desenvolvimento, as ações de envelhecimento ativo e empresa saudável, bem como a comunicação e promoção das relações interpessoais são chaves para avançar na prevenção de riscos.