Blockchain a tecnologia que tem a intenção de mudar o mundo

Dec 31, 2017 | Descobrir, Relatoiro

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O potencial desta tecnologia que sustenta o bitcoin e a maioria das moedas é tão grande que os especialistas garantem que irá transformar as relações e auxiliará as organizações na captação de talento na nova Internet de valor. Embora ainda se encontre na fase de desenvolvimento comercial, existe a previsão de que, se forem cumpridas as expectativas geradas em uma década, irá gerar uma verdadeira revolução centralizada nos cidadãos.

TEXTO MARINA CALVO | FOTOGRAFIAS ISTOCKPHOTO

Faça um teste e pergunte-se quando foi a última vez que você ouviu falar de Blockchain; consulte seus amigos, confira as hemerotecas e o site do famoso MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), entre no Google e você chegará à conclusão que já ouviu falar dessa denominação de moda, e pouco mais que isso. Apesar do nível de repetição, não é fácil explicar como esse âmbito tecnológico funciona, já que todos falam dele nas empresas, mas grande parte dos especialistas admite que desconhece.

Isto é natural. Especialistas explicam que, para poder compreender o sistema profundamente, é preciso estar no nível de matemática empregado na astrofísica, conhecer tecnologia e arquitetura de redes, entender criptografia e, a tudo isto, acrescentar conhecimentos de economia e ter preparação teórica preliminar sobre seus fundamentos. Tendo em vista como é difícil reunir todos esses critérios, o que faz com que a maioria desista de tentar, trataremos neste artigo da filosofia que está ao redor do Blockchain e como ele pode contribuir para mudar o mundo.

Todos os dias, empresas, empreendedores e governos fazem investimentos milionários para desenvolver esta tecnologia e ocupar uma boa posição dentro do que muitos têm denominado a próxima revolução industrial: a Internet de valor, expressão que define o próximo passo da evolução da Web, em que os valores poderão ser compartilhados descentralizadamente, ou seja, sem intermediários, o que é exatamente o que o Blockchain permite.

“NO FUTURO, O MUNDO PODERIA SER 7 BILHÕES DE NÓS CONECTADOS EM REDE, SEM
INTERMEDIÁRIOS”
Alex Preukschat, coordenador da Blockchain Espanha

O Blockchain foi criado em 2009 como a coluna vertebral do bitcoin, a criptomoeda mais popular do mundo, e significa “encadeamento de blocos” em inglês. No entanto, a tecnologia que foi o suporte para o lançamento da moeda virtual não regularizada por excelência pode servir para muito mais do que isto e fazer com que a fila de intermediários em outros serviços e processos empresariais pule pelos ares, caso esta infraestrutura chegue a ser aceita pela indústria.

Em um mundo altamente especulativo, acontece com o Blockchain o mesmo que com as grandes rupturas tecnológicas: leva a um discurso futurista, voltado a querer estabelecer o formato e as aplicações que irá viabilizar, e acertar com um negócio que, este ano, representou 4,5 bilhões milhões de dólares investidos em um cossistema no qual foram fundadas quinhentas start-ups. No entanto, o nível de maturidade do Blockchain ainda precisa ser provado e esse período pode resultar em certa decepção.

O desafio de prever sua evolução

Alex Preukschat, coordenador geral da Blockchain Espanha e autor do livre Blockchain, a revolução industrial da Internet, referem-se à Internet para explicar o que pode acontecer no futuro e ao desafio que representava fazer um prognóstico da evolução da Web em 1992. “Chegar a visualizar tudo aquilo em que se transformou seria um verdadeiro desafio: primeiramente, os e-mails; depois, os bate-papos; depois, as redes sociais; as ligações por telefone sem custo e, atualmente, poder fazer compras pela Amazon.”

“Nos anos setenta, alguns visionários já tinham prognosticado um mundo como conhecemos hoje. Mas então, o que se podia falar era de tecnologia, de protocolo TCP/IP, da parte técnica”, lembra ele, para explicar a fase na qual estamos agora com o Blockchain.

Esses cenários representam um desfio enorme, porque talvez a tecnologia não possa satisfazer as expectativas do interesse público que ele desperta, e fracasse por este ou por outros motivos. O subdiretor de Inovação Tecnológica da MAPFRE, Joan Cuscó, alerta, por exemplo, que o prazo dado para ver o impacto em massa do machine learning e da inteligência artificial oscila entre cinco e dez anos.

O Blockchain, do mesmo modo que com a Internet, não é possível imaginar: é uma arquitetura, um design, não um espaço. Mas não é uma coisa qualquer, porque foi criado como a Web, peer-to-peer, capaz de espelhar todas as transações financeiras das moedas virtuais (como o bitcoin e a ether) em forma de um grande cadastro, e ficando associado ao valor mais importante de todos: o dinheiro.

Consenso descentralizado

O que é o Blockchain? É um grande banco de dados distribuído em servidores pelo mundo todo no qual é possível trocar informações de valor (títulos, dados, qualquer tipo de ativo digital) e confirmar as transações de forma descentralizada – ou seja, sem o suporte de nenhum governo nem emissor central – entre participantes que não se conhecem entre eles, mas de maneira altamente segura, porque não pode ser alterado.

“O Blockchain é a máquina do consenso descentralizado”, resume Preukschat, lembrando que resolveu o problema de despesas em dobro que cientistas do mundo todo vinham pesquisando há vários anos. Agora, impede que sejam feitos pagamentos duas vezes com a mesma moeda, usando como exemplo o sistema bancário que todos nós conhecemos.

“Em um mundo centralizado, é simples. Se você tiver 100 euros e gastar 80, existe o consenso de que restam 20, porque isto é o que o banco fala e nele todo mundo confia, porque ninguém pensa que seu banco de dados foi manipulado. Além disso, existe um órgão de regulamentação que está por trás disso”, explica.

Para entender melhor, o Blockchain é muito parecido ao BitTorrent (software para fazer download de arquivos de áudio e vídeo, por exemplo, músicas), com o qual é possível fazer o download e compartilhar arquivos extraídos de um banco de dados gigantesco, onde as informações não são controladas por ninguém, nos computadores dos seus clientes no mundo todo.

Na nova Internet de valor, empregando a tecnologia Blockchain em um sistema descentralizado, ninguém age como a única voz autorizada. O consenso é obtido por meio de um teste de trabalho por meio do qual uma série de  computadores (denominado, a seguir, nós) entre em acordo sobre a situação real de uma conta, sem depender de uma autoridade central.

A capacidade que esta arquitetura tem para conservar os mais diferentes tipos de informação valiosa também chamou a atenção de inúmeros empreendedores ao redor do mundo e foram criados sistemas de tabelionato digital, de assinatura eletrônica, registro de patentes e contratos, entre muitas outras aplicações.

Tipos e benefícios

A rastreabilidade do Blockchain, onde tudo deixa vestígios, justamente uma das suas principais vantagens. Em um mundo no qual a transparência, a confiança e a ética se transformaram em colunas para os países mais avançados, esta maneira de ver a distribuição, em que os participantes passam a fazer parte de uma rede em condições de igualdade, envolve um número sem fim de chances.

No mercado, Blockchain é usado como um termo genérico por questão de comodidade. No entanto, na verdade, não existe apenas um encadeamento de blocos, mas sim quantos forem desejados: qualquer pessoa que tenha cinco computadores e os conhecimentos necessários poderá criar um Blockchain praticamente sem custos.

O DNA do Blockchain diverge muito, dependendo de se é público ou privado, já que não são compatíveis entre eles. Enquanto nos blockchains públicos os participantes estão identificados, têm certas permissões e estão concentrados em otimizar processos e obter rentabilidade, os primeiros estão associados a uma ruptura completa, ávidos por reinventar o mundo.

“A MAPFRE ESTÁ EXPLORANDO A UTILIZAÇÃO E O IMPACTO QUE AS NOVAS TECNOLOGIAS, COMO O BLOCKCHAIN, IRÃO GERAR E SERÃO FUNDAMENTAIS
NO MUNDO DIGITAL”
Josep Celaya, diretor de Inovação da companhia

Os campos de aplicação também são incontáveis e abrangem desde a identificação digital de refugiados até o envio de ajuda humanitária, votação eletrônica, combater a corrupção ou erradicar os “diamantes de sangue” provenientes de regiões em guerra.

A outra face da questão, e que dá lugar ao maior número de dúvidas, é o problema da escalabilidade dessa tecnologia e o tempo que as transações e verificações demoram atualmente. A falta de padrões unificados entre os diversos blockchains – sejam eles públicos ou privados – também demonstra ser um ponto fraco do sistema, já que dificulta o diálogo entre os encadeamentos.

Impacto sobre o setor de seguros

No campo privado, o setor de seguros é, depois do bancário, um dos que mais sofrerão o impacto do Blockchain. A tecnologia influenciaria principalmente em dois níveis:

• Em relação à utilização dos smart contracts (contratos inteligentes), um item que faz parte do kit tecnológico do Blockchain e com o qual é possível automatizar certos serviços. Neste caso, já foi dado o passo inicial para fazer com que as áreas de operações façam a automação dos pagamentos naqueles casos em que o ponto de partida de uma prestação já seja inequívoco e incontestável. O mesmo acontece naqueles casos em que o pagamento seja claro e evidente, como o cancelamento de um voo dentro do seguro de viagem. “Estes são quick wins bem evidentes”, afirma Cuscó.

• Em relação ao seu alto nível de rastreabilidade, no que diz respeito a operações cruzadas entre entidades, é feita a troca de informações dentro do mesmo Blockchain, por exemplo, de clientes, companhias de seguros, concessionárias e DETRAN, como parte do processo de documentação e cobertura de um veículo assim que ele sai do fabricante.

A MAPFRE, que se encontra em pleno processo de transformação digital, tem prestado muita atenção ao Blockchain como parte da aposta da companhia pela inovação. “Estamos explorando a utilização e o impacto que as novas tecnologias, como o Blockchain, irão gerar e serão fundamentais no mundo digital. Por exemplo, a possibilidade de articular smart contracts representará uma melhoria na relação entre organizações digitais, reduzindo o custo das transações”, explicou o diretor de Inovação da companhia, Josep Celaya.

 

UM MODELO HUMANISTA

Preukschat garante que todos os modelos de futuro são maneiras de organizar as relações humanas. Quando aparecem novas fórmulas, é normal que elas produzam medo, mas são elas que permitem progredir. “Em 200 anos, foi criado um modelo de organização hierárquico centralizado”, explica, “aquele que foi empreendido pelas organizações no começo da revolução industrial usando o modelo do exército como base. Muitas pessoas que estão por trás dos blockchains públicos questionam a injustiça de um padrão centralizado, não equitativo, que afeta o ecossistema, por isso trabalham no Blockchain para explorar outros meios de organização. As mesmas pessoas que criaram o projeto Ethereum, que faz com que o Blockchain se transforme em uma plataforma de computação graças aos smart contracts, têm buscado uma economia descentralizada. Agora o investimento em protocolos foi democratizado por interesse especulativo, mas isto permite chegar a um nível de inovação desconhecido até agora”, admite o especialista. As empresas estão analisando meios que, à primeira vista, poderiam ser contrários aos seus interesses. Uma coisa tão esperançadora como acreditar que reunir muito talento com muito investimento irá gerar um macroprojeto no futuro próximo.

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