Domus automaticus, a casa do futuro já está no presente

Sep 19, 2017 | Descobrir

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Em 1989, a segunda parte da mítica saga cinematográfica De volta para o futuro mostrava um modelo de casa em que as portas se abriam com botões, as janelas eram substituídas por projeções de paisagens, a comida era preparada em um “hidratador” e as chamadas eram atendidas dos óculos ou da televisão. Com diversos matizes, os cenários que imaginávamos naquela época com as aventuras de Marty McFly e Doc Emmett cada vez se parecem mais ao que vemos hoje nas casas do século XXI; estruturas que gradualmente vêm adotando a automatização ao seu funcionamento em uma viagem sem retorno. Abre-se adiante um universo de oportunidades, mas também de riscos aos quais o setor de seguros deve responder.

TEXTO Javier Ortega | FOTOS Thinkstock

O conceito de domótica, formado pela união de domus (casa em latim) e tica, do grego automática (que funciona por si só), foi criado no início da década de 1970 quando, como projeto-piloto, apareceram os primeiros dispositivos inteligentes integrados em edifícios. Quase 50 anos depois, as casas digitais são uma realidade e cresce o número de lares conectados em que é viável mecanizar e otimizar tarefas que tradicionalmente dependiam da ação direta do homem.

As possibilidades parecem quase infinitas e, entre as opções oferecidas pela tecnologia, as mais apreciadas são as que estão relacionadas com a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e os sistemas de gestão que comunicam todos os aparelhos eletrônicos da casa. Na prática, isto se traduz em um novo uso, por intermédio da rede de redes, de objetos como câmeras ou sensores que antes se conectavam apenas por circuitos fechados. Ainda que, por enquanto, a IoT tenha mais êxito em setores como o de saúde ou de controle de infraestruturas urbanas, o surgimento da etiqueta “inteligente” nas casas está chegando com força graças a uma indústria que já a tornou rentável há algum tempo, a dos smartphones

QUASE 50 ANOS DEPOIS, AS CASAS DIGITAIS SÃO UMA REALIDADE

Inteligente, ecológico e eficiente

Há apenas alguns anos, poderia parecer ficção científica, mas atualmente, graças a diversos apps, a partir de um telefone e com a utilização de câmeras, é possível vigiar nossos bebês ou o interior de uma casa; controlar a temperatura do termômetro do forno na cozinha; acender e apagar lâmpadas, televisores ou o ar condicionado; ou calcular se falta água ou adubo nas plantas e se a umidade, temperatura e luz são adequadas. Geladeiras que avisam quando os alimentos vão acabando, robôs de limpeza que começam a trabalhar no momento em que a casa está vazia, purificadores de ar que se ativam se o ambiente estiver carregado de partículas nocivas… Embora continuemos usando os celulares para falar, eles estão a caminho de se tornarem o controle remoto universal, e a lista de dispositivos que podem ser controlados a partir deles aumenta sem parar.

Na China, o país que mais produz eletrodomésticos no mundo, as principais marcas apostaram há algum tempo em produtos e aplicativos que se ajustam ao trinômio inteligente, ecológico e eficiente… O passo seguinte é crescer na interconexão entre os próprios aparelhos. Falamos de um cenário em que, para alguns pode ser preocupante o fato de que, por exemplo, a geladeira envie uma mensagem ao celular de seu proprietário com os alimentos que este deve comprar para seguir uma dieta que, por sua vez, foi estabelecida por algum gadget que controla o estado físico em função de seu colesterol. A interconectividade total, embora tentadora, não será tão fácil de alcançar porque para isso a maioria dos fabricantes deverão fazer acordos, compartilhar informações e negociar padrões universais. De qualquer forma, este processo será um pouco mais lento, mas acontecerá.

Mais oportunidades… e mais riscos

De acordo com um estudo da consultoria norte-americana Gartner, em 2020, mais de 20 bilhões de objetos estarão interconectados no mundo inteiro. O que aconteceria se algum desses sistemas fosse invadido e acessado com fins ilícitos?

Primeiro, os hackers focaram nos computadores pessoais; depois os vírus chegaram à telefonia móvel e, recentemente, vem se notando um aumento dos ataques a sistemas de controle de veículos. As casas inteligentes estão também na mira deles e já existem evidências disso. Por exemplo, em Israel, um grupo de hackers denominados White Hat demonstrou a vulnerabilidade das lâmpadas de última geração atacando o sistema de iluminação de edifícios públicos e casas. Foi tão simples como passar com um carro (também poderia ser feito com um drone) a menos de 70 metros de uma das lâmpadas que estavam entre seus objetivos. Isso lhes serviu para infectar um primeiro dispositivo e “contagiar” em cadeia o resto, passando a controlar a instalação de luz e acendendo e apagando as luzes quando queriam.

Na Espanha, no ano passado, o Instituto Nacional de Segurança Cibernética contabilizou 115.000 ataques cibernéticos a empresas e pessoas físicas, 130% a mais que os 50.000 registrados em 2015. Qualquer dispositivo conectado à internet pode ser vítima, por exemplo, de um ransomware, programa maligno que provocou um ataque cibernético global em maio e que em junho voltou a afetar empresas do mundo inteiro. Em residências, já houve casos de televisores inteligentes infectados com este tipo de vírus.

O papel do seguro

Evidentemente, as probabilidades de ataques crescem com a implementação da tecnologia em cada vez mais partes da nossa vida, mas isso não deve nos impedir. É só uma questão estar mais atentos e nos proteger melhor com as opções que temos ao nosso alcance. E nisso, o setor de seguros tem muito a dizer. Os seguros evoluem também graças à IoT e ao big data. Por exemplo, há algum tempo a MAPFRE inclui assistência informática para computadores, smartphones e tablets e contempla também a instalação de sistemas de antivírus, backup dos arquivos do cliente ou a recuperação de dados e conteúdos no caso de falhas. É nessa linha que continuará aprofundando e crescendo ao criar novos serviços de acordo com as necessidades do cliente.

Para Antonio Huertas, presidente da MAPFRE, as novas tecnologias estão propiciando o desencadeamento de uma revolução “que pode ter um caráter de transformação para o setor de seguros em um prazo de cinco a dez anos”. Logicamente, esta transformação, como todas, envolve riscos e oportunidades, “da capacidade das seguradoras existentes no mercado para saber minimizar os primeiros e maximizar as segundas dependerá de sua sobrevivência ou não a esta revolução e que o façam com êxito. Alguns riscos desaparecem, outros surgem e outros se transformam. Mas as pessoas nunca renunciarão a se protegerem do inesperado”.

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